quarta-feira, maio 31, 2006

coisas de gajas

Sessão de esclarecimento no Sociedade Anónima.

festa

Os Tiger Lillies vão estar com Alexander Hacke em Serralves, no próximo Domingo. Moi aussi.

terça-feira, maio 30, 2006

não é o preferido

Não é o meu preferido, não saberia escolher um. Mas é, sem dúvida, aquele que mais vezes passa no meu circuito interno.

"cala-te, a luz arde entre os lábios
e o amor não contempla, sempre
o amor procura, tacteia no escuro,
esta perna é tua?, é teu este braço?,
subo por ti de ramo em ramo,
respiro rente à tua boca,
abre-se a alma à língua, morreria
agora se mo pedisses, dorme,
nunca o amor foi fácil, nunca,
também a terra morre."



Eugénio de Andrade

segunda-feira, maio 29, 2006

ai o meu mau feitio

Não há nada a fazer. As pessoas muito compostas, cheias de formalidades, controladas, dão-me nos nervos. Só me apetece fazer asneiras. Despenteá-las, apertar-lhes os calos para ver até onde vai a compostura. Dizer palavrões, ser agressiva e desagradável.
É indecente despertar assim nos outros o que eles têm de pior. Deviam ter vergonha!

importa-se de repetir?

Disseram-me hoje que seria "fora-de-série-se-não-tivesse-tantos-escrúpulos". What the fuck does that mean? (Pardon my french!)

sábado, maio 27, 2006

vestidos & companhia

Hoje é dia de vestido e sandália, para andar quase descalça. Leve, muito leve!

sexta-feira, maio 26, 2006

"então porque não voas?"

«A noite passada um paredão ruiu
pela fresta aberta o meu peito fugiu
estavas do outro lado a tricotar janelas
vias-me em segredo ao debruçar-te nelas
cheguei-me a ti disse baixinho "olá",
toquei-te no ombro e a marca ficou lá
o sol inteiro caiu entre os montes
e então olhaste
depois sorriste
disseste "ainda bem que voltaste"»


Sérgio Godinho, "A Noite Passada"

na ressaca de ontem

"(...)
Com um brilhozinho nos olhos
metemos o carro
muito à frente muito à frente dos bois
ou seja fizemos promessas
trocámos retratos
traçámos projectos a dois
trocámos de roupa trocámos de corpo
trocámos de beijos tão bom é tão bom
e com um brilhozinho nos olhos
tocámos guitarra
pelo menos a julgar pelo som

E o que é que foi que ele disse?
E o que é que foi que ele disse?
Hoje soube-me a pouco
Hoje soube-me a pouco
Hoje soube-me a pouco
Hoje soube-me a pouco
passa aí mais um bocadinho
que estou quase a ficar louco
Hoje soube-me a tanto
Hoje soube-me a tanto
Hoje soube-me a tanto
Hoje soube-me a tanto
portanto
hoje soube-me a pouco

Com um brilhozinho nos olhos
corremos os estores
pusemos o rádio no on
acendemos a já costumeira
velinha de igreja
pusemos no off o telefone
e olha não dá para contar
mas sei que tu sabes
daquilo que sabes que eu sei
e com um brilhozinho nos olhos
ficámos parados
depois do que não te contei

Com um brilhozinho nos olhos
dissemos sei lá
o que nos passou pela tola
do estilo: és o number one
dou-te vinte valores
és um treze no totobola
e às duas por três
bebemos um copo
fizemos o quatro e pintámos o sete
e com um brilhozinho nos olhos
ficámos imóveis
a dar uma de tête a tête

E com um brilhozinho nos olhos
tentámos saber
para lá do que muito se amou
quem éramos nós
quem queríamos ser
e quais as esperanças
que a vida roubou
e olhei-o de longe
e mirei-o de perto
que quem não vê caras
não vê corações
e com um brilhozinho nos olhos
guardei um amigo
que é coisa que vale milhões"


Sérgio Godinho, "Com um brilhozinho nos olhos"

acção subversiva

E a minha mãe diz com um sorrisinho cúmplice: "Não se pode dizer que tenha sido um funeral triste!" Quase trinta e três anos de acção subversiva conjunta - minha e da mana - começam a dar resultados. É de estourar de orgulho!

quarta-feira, maio 24, 2006

aparição.04

"Familiarizei-me com a morte como um cangalheiro, tinha a obrigação de a saber já de cor. Mas saber de cor é apenas saber e não ter problemas de entendimento. Sei por ofício a morte dos outros, mas tenho problemas em entender a minha e a dos que são eu."

Vergílio Ferreira, em "Na tua Face"

aparição.03

"De vez em quando o Luc diz-me lembras-te de e de? e de me teres dito que? E sinto que ele detém uma fracção grande da minha vida que guardou no bolso."

Vergílio Ferreira, em "Na Tua Face"

aparição.02

"Mas se eu estou para aqui a fazer-te existir é porque tenho um projecto de existir eu outro contigo. A ver se o consigo."

Vergílio Ferreira, em " Na Tua Face"

aparição.01

"Não entendi, como sempre que é de mais e transborda do entendimento e é só para entender quando coalha e cabe lá."

Vergílio Ferreira, em "Na Tua Face"

aparição

"Na Tua Face", de Vergílio Ferreira, foi a minha verdadeira aparição.

terça-feira, maio 23, 2006

impressiva

A minha memória é, sobretudo, impressiva. Quando cozinho quase não uso receitas, faço a olho e vou provando até conseguir reproduzir um sabor, ou melhorá-lo. Não decoro frases ou excertos daquilo que leio. Sei alguns, poucos, poemas de cor, apenas porque ressoam tão frequentemente na minha cabeça. Mas fixo muitas expressões e tenho um verdadeiro arquivo pessoal de imagens poéticas e metáforas.

segunda-feira, maio 22, 2006

nova gerência

"If it's true that every seven years each cell in your body dies and is replaced, then I have truly inherited my life from a dead man; and the misdeeds of those times have been forgiven, and are buried with his bones."

Neil Gaiman, em "Smoke and Mirrors"

viagem

A minha melhor amiga, exilada em S. Miguel, entope-me a caixa do correio com "postais ilustrados", assim em jeito de piscadela de olho.
Há dias, a Sara apareceu no meu sonho. Estava no meu quarto, abre gaveta, fecha gaveta, naquele seu ar muito despachado. Disse-me, "achavas que ias para os Açores sozinha?" E continuou a dobrar peças de roupa, toda sorridente. Eu, embasbacada, a abanar a cabeça, que sim e que não, ao que ela me dizia.
Para quem não sabe, a Sara morreu há 10 anos. Se se deu ao trabalho de me vir ajudar a fazer a mala só me resta marcar passagem. Isso, e levar uma sweater mais quente. Foi ela que me disse.

mc scolari

Começo por esclarecer que subscrevo inteiramente as palavras do Francisco José Viegas sobre o "mister". Mas, se quanto à sua competência como seleccionador estamos conversados, há que admitir que o homem tem talento para mestre-de-cerimónias. Ele sabe animar as hostes!
Agora, além de pormos as bandeirinhas ao sol, Scolari sugere que escrevamos os nomes dos jogadores pelas estradas deste país. Bonito, inspirado!
E eu sugiro que desatemos a rabiscar nomes no asfalto. Mas daqueles que deviam lá estar e não estão, em cores garridas para animar a festa. QUARESMA, em azul forte, por exemplo!
Já estou a ver as fotografias aéreas!...

sábado, maio 20, 2006

MEC

No meu habitual deambular (só) aparentemente sem sentido, dei de caras com dois textos do Miguel Esteves Cardoso. Por motivos bem diferentes, isto e isto, comove-me.

com o cotovelo

Traduzir é um acto de generosidade, de entrega a um texto alheio para o tornar acessível. Traduzir é partilhar, é dar a conhecer. Uma oferta, sem protagonismos. (Com a honrosa excepção do Vasco Graça Moura, claro, que relega Shakespeare, Dante e outros para notas de rodapé)
Por isso fico "alternadeira" da vida com certas "traduções" em que tropeço. Podiam só ter sido feitas com os pés: incapacidade e incompetência. Mas, cada vez me convenço mais que são feitas com o cotovelo, com aquela pontinha que dói. Aquele prazer sádico em aniquilar um texto, sabotar beleza, estropiar imagens, só pode ser dor de corno.

só amigos

"Ela propôs-me que ficássemos amigos. Disse-lhe logo que sim. Também lhe disse que não tinha tempo para estar com os meus amigos.
Julguei que tivéssemos ficado entendidos. Era uma solução para um problema que eu não sei se existia. Mas se ela assim o queria, não pensei em mim, estava muito cansado.
Passados três dias telefonou-me. Queria ver-me. Disse-lhe que não tinha tempo. Ela perguntou-me se já não éramos namorados e disse-me que, como sempre, eu estava a querer decidir tudo sozinho, que era um egoísta. Desliguei o telefone e fui para o jardim."

Pedro Paixão, em "Vida de Adulto"

bolha

"Se há um lago no meio da tua cabeça, o não só é verosímil, mas normal, ainda que só se possa afirmá-lo com cautela, precisarás de algum tempo para o alcançar. Não há carreiro, nunca há carreiro e, junto das margens, tem cuidado com as ervas, sempre perigosas nesta época do ano. Também não haverá barcos, claro, quase nunca há barcos, mas podes atravessar a nado.

Mais tarde, nunca houve lago, evidentemente. Lembras-te perfeitamente de que nunca houve lago nenhum. Contudo, já há muito tempo que o sono está diante de ti, mais perto do que nunca. Tem a sua forma habitual: uma bola, ou melhor, uma bolha grande, muito grande, transparente, claro, mas não de vidro, talvez antes de sabão, mas de um sabão muito duro, nada gordo, e um pouco friável, ou então, talvez uma pele extremamente fina, muito tensa."


Georges Perec, em "Um Homem que Dorme"

quinta-feira, maio 18, 2006

post-it

Um zumbido vai arrastar-me até ao chuveiro. Debaixo de água, espero que os olhos abram. Sem pressa. Lá fora, ninguém grita o meu nome. Há, apenas, uma lista de compras na porta do frigorífico. E vários post-its, espalhados pelos lugares mais improváveis. Duas palavras com sublinhado de urgência: FAZER PLANOS!

quarta-feira, maio 17, 2006

Sonolência

"A situação é desconfortável. Fizeste mal em prestar atenção a esses pormenores que nem sequer eram verdadeiros; é evidente que se tratava apenas de ciladas, e agora, aí estás tu, preso no interior do travesseiro, onde está tanto calor e é tão escuro que perguntas a ti próprio, não sem alguma inquietação, como vais fazer para sair. Felizmente, não é a primeira vez que te encontras numa situação dessas; sabes que te basta encontrar no horizonte um acidente de terreno, ou um clarão na obscuridade, um lado, ou um local fresco onde te deixares cair, e, justamente, sentes uma aptidão espantosa para te deixares cair."

Georges Perec, em "Um Homem que Dorme"

terça-feira, maio 16, 2006

whatever



whatever, the bastard fairies

sábado, maio 13, 2006

rafael

As asas estão na natureza dos anjos caídos. Basta que lhes ocorra voar.

sexta-feira, maio 12, 2006

lua

Aqui, das Virtudes, vejo uma lua imensa no céu. Ela já andava a avisar.

lição de anatomia

Diz a minha melhor amiga, na sua sabedoria muito terra-a-terra, "quem tem cu tem medo! Isso é natural! Mas, porra, também é preciso ter tomates!"

quinta-feira, maio 11, 2006

mal de montano.03

"Não sei como dizer-te que a minha voz te procura
e a atenção começa a florir, quando sucede a noite
esplêndida e vasta.
Não sei o que dizer, quando longamente teus pulsos
se enchem de um brilho precioso
e estremeces como um pensamento chegado. Quando,
iniciado o campo, o centeio imaturo ondula tocado
pelo pressentir de um tempo distante,
e na terra crescida os homens entoam a vindima
- eu não sei como dizer-te que cem ideias,
dentro de mim, te procuram.

Quando as folhas da melancolia arrefecem com astros
ao lado do espaço
e o coração é uma semente inventada
em seu escuro fundo e em seu turbilhão de um dia,
tu arrebatas os caminhos da minha solidão
como se toda a casa ardesse pousada na noite.
- E então não sei o que dizer
junto à taça de pedra do teu tão jovem silêncio.
Quando as crianças acordam nas luas espantadas
que às vezes se despenham no meio do tempo
- não sei como dizer-te que a pureza,
dentro de mim, te procura.

Durante a primavera inteira aprendo
os trevos, a água sobrenatural, o leve e abstracto
correr do espaço -
e penso que vou dizer algo cheio de razão,
mas quando a sombra cai da curva sôfrega
dos meus lábios, sinto que me faltam
um girassol, uma pedra, uma ave - qualquer
coisa extraordinária.
Porque não sei como dizer-te sem milagres
que dentro de mim é o sol, o fruto,
a criança, a água, o deus, o leite, a mãe,
o amor,

que te procuram."

Herberto Helder, em "Poesia Toda"

nas ondas

Gosto da rádio. Gosto de programas de autor. Gosto da companhia de uma voz familiar, dos universos sonoros de cada um, das surpresas, dos "obrigatórios", das paixões e embirrações. Odeio música de elevador e as malditas playlists; odeio "animadores" (!?) burgessos e humor rasteiro.
Gosto que digam ouve. Gosto de parar para ouvir. Gosto que repitam, só porque sim.

sobremesa

De sobremesa, ofereci-me quase uma hora no Jardim das Virtudes, descalça e deitada na relva acabada de cortar. Não há mais poesia que isto.

reprodução assistida

Hoje, na rádio, ouço falar de um estudo que conclui que as mulheres escolhem, cada vez mais, homens com feições delicadas e olhos grandes - os chamados bâmbis - para pais dos seus filhos. E que reservam "exemplares" com aspecto mais másculo para relacionamentos fugazes.

Pensei logo num documentário a que assisti. Com base em testes genéticos e estabelecendo padrões comportamentais, os investigadores chegavam a um número impressionante: 3 em cada 10 homens criam, sem o saber, filhos que não são seus. E que as facadas no matrimónio, por parte das mulheres, tendem a coincidir com o seu período fértil. Elas escolhem homens evoluídos para assegurarem o crescimento dos filhos mas não resistem a procurar a contribuição genética do "macho dominante".

É o ADN a acabar com a ficção.

quarta-feira, maio 10, 2006

6.40

Acordei às 6.40 para acabar com um sonho onde dois palhaços discutiam, filosoficamente, quantos buracos seriam necessários para tornar uma t-shirt num farrapo.

insónias

"ultimamente não consigo dormir e não consigo acordar. ontem
já muito de noite nas horas em que posso estar ainda mais
sozinho, sentei-me ao lume e lembrei-me de quando ficávamos
juntos à porta da tua avó e para as pessoas que passavam
éramos namorados. dizíamos conversas só nossas e
às vezes beijávamo-nos. sentei-me ao lume e pensei no teu
corpo quando te abraçava e pensei que talvez naquele momento
um homem estivesse a ter prazer dentro de ti. hoje
sentei-me parado com as mãos paradas, com o rosto parado e
lembrei-me da tua pele tão suave, dos teus dedos bonitos,
dos teus olhos de menina e penso que talvez neste momento esteja
um homem a ter prazer dentro de ti."

José Luís Peixoto, em "A Criança em Ruínas"

papel dobrado

"no papel, as palavras escondidas, as nuvens.
dizes não posso ser o mundo hoje, esqueces que
tu és o mundo. dizes não posso, e eu gostava que
soubesses sempre que um lamento dentro de mim
te repete. abro o papel dobrado e abro a noite
no céu. as árvores são distantes, as palavras
e talvez a música, a terra é distante no
papel dobrado que me entregas escondido
na mão."

José Luís Peixoto, em "A Criança em Ruínas"

terça-feira, maio 09, 2006

um devaneio por outro

Agora que acabaram os "devaneios sentimentais", viro-me para os devaneios gastronómicos. Na próxima semana já devo ter a casa decente para receber visitas e podem recomeçar os jantarinhos.
Aceitam-se pedidos. Aproveitem que estou inspirada.

luz

A certa altura, despontou uma luz em mim, ou alguém me incendiou, tanto faz. Às vezes foi farol, outras simples luz de presença. Nunca esmoreceu. Agora só consigo pensar: se não serve para me iluminar, para quê tanta luz?

segunda-feira, maio 08, 2006

rock in rio

EU NÃO VOU!

E já mandei fazer a t-shirt.

trautear

Desde Quinta-feira, sempre estes versos em loop, na minha cabeça. A Naifa a musicar poemas do José Luís Peixoto. Dizer o quê?

"(...)flor a florir desmedida
assim te vi, a rasgar a vida (...)"

(in)tolerância

Não, R., não estou mais tolerante. A tolerância pressupõe um olhar de cima, felizmente impraticável a partir do meu metro e sessenta. Continuo a-ferro-e-fogo, só que pratico mais aquela coisa de me colocar no lugar do outro. Regra geral, o que constato é que todos fazem o que podem, o melhor de que são capazes e sabem. Temos medo, todos temos muito medo, e contamo-nos histórias que nos sosseguem. Foi sempre assim.

Que já não tenho 18 anos, é verdade. Nos dias bons tenho 6 ou 150 e ajo de acordo.

Conheço bem a capacidade que tenho de fazer mal. Sobretudo quando sou encantadora.
Ando a tentar parar mas, por vezes, descaio-me.

É um dom, está-me nos genes. Sei, intuitivamente, o que dizer para que doa muito, bem e fundo. E seduzir, deslumbrar, é apenas o reverso deste jogo. "Com perfumes a presa é fácil/ com jóias, casacos de peles./ gosto do amor quando é difícil/ e cheira ao meu hálito reles".

descapotável

"quero estropiar o nosso amor
cortar-lhe as asas
vazar-lhe os olhos
trilhar-lhe os dedos e gemer.
(...)
quero o meu amor experimental
furar-lhe os tímpanos
cortar-lhe as veias
amordaçá-lo.
pisar-lhe os calos
arranhá-lo...

o meu amor cabe na cova que lhe abri
o meu amor cabe na cova de um dente."

Descapotável, Três Tristes Tigres

mal de montano.02

Há uns anos, segui a sugestão apaixonada do escritor Mário Cláudio e li "Quarteto de Alexandria". "Justine", continua a ser, até hoje, uma das minhas maiores experiências literárias. E quem lê Lawrence Durrell não pode deixar de ficar fascinado pelo "velho poeta da cidade", que atravessa a obra, impregna a cidade. Fui ler Cavafis, claro.

Há pouco tempo alguém me apresentou a Lluis Llach, e rendi-me imediatamente a "A la taverna del mar". De volta a Cavafis, um círculo completo. E parto já para outros.

Tinha na estante "O Mal de Montano", de Enrique Vila-Matas. Já por várias vezes estive para lê-lo e sempre outra coisa se entrepôs. Precisei de um congresso sobre Literatura de Viagens, algumas alusões do J. e a insistência do R. para chegar a ele no momento certo. Para nele descobrir o mal de que sofro e a forma de nomeá-lo.

Já achei que, para mim, "demasiado cedo foi tarde de mais". Agora sei que faço com que tudo aconteça no momento preciso. Mesmo que seja para constatar que é o tempo errado.

estados de espírito

Hoje planeei escrever outra coisa, mas logo pela manhã falaram-me da importância de parar com os "devaneios sentimentais". Pareceu-me boa ideia. Às vezes, o mais difícil é ficar quieta.

Nos últimos dias este blog tem sofrido alterações cromáticas bruscas. Experiências. Desculpa S., mas, por agora, vai ficar assim. (S. é um amigo que é o inverso do Siza. Ele gosta de todas as cores, desde que sejam preto!)

Há dias, no meio da "Poesia Toda", de Herberto Helder, encontrei um postal da Sara. Foi ela que me deu "o tijolo", como lhe chamava. No postal - lindíssimo, por sinal - escreveu umas coisitas que ficam entre nós, os parabéns da praxe e, em letras garrafais, "ODEIO OS TEUS ESTADOS DE ESPÍRITO!!!!". Ri-me sozinha. Eu também amiga, eu também!

sábado, maio 06, 2006

mal de montano.01

Não em crescendo, mas em loop. "Little Earthquakes", de Tori Amos.

"we danced in graveyards
with vampires till dawn
we laughed in the faces of kings
never afraid to burn
and i hate
and i hate
disintegration
watching us wither
black winged roses
that safely changed their color

oh these little earthquakes
here we go again
these little earthquakes
doesn't take much to rip us into pieces

i can't reach you
i can't reach you

give me life
give me pain
give me myself again"

mal de montano

"Vivemos de histórias que nos contámos. Repetimo-las muitas vezes e pouco importa quem as viveu. Algumas são inventadas.(...) Sentados à volta de uma mesa de café move-nos uma fúria em esgotar o tempo com palavras. Em silêncio extinguimo-nos. É a única certeza."

Pedro Paixão, em Vida de Adulto

sexta-feira, maio 05, 2006

a naifa

Ontem, no Rivoli, juntaram-se uns quantos "corações avariados" para ouvir "3 MINUTOS ANTES DA MARÉ ENCHER" e alguns "ciclones".
É difícil escolher, mas hoje apetece-me "Todo o amor do mundo não foi suficiente". O poema é do José Luís Peixoto.

"todo o amor do mundo não foi suficiente porque o amor não serve de nada. ficaram só
os papéis e a tristeza, ficou só a amargura e a cinza dos cigarros e da morte.
os domingos e as noites que passámos a fazer planos não foram suficientes e foram
demasiados porque hoje são como sangue no teu rosto, são como lágrimas.
sei que nos amámos muito e um dia, quando já não te encontrar em cada instante, cada hora,
não irei negar isso. Não irei negar nunca que te amei. nem mesmo quando estiver deitado,
nu, sobre os lençóis de outra e ele me obrigar a dizer que a amo antes de a foder."

Se dúvidas houvesse, "A verdade apanha-se com enganos"!

amigos

Aos bons e velhos amigos. E ao bom que é, de vez em quando, deixar que nos levem pela mão.

quinta-feira, maio 04, 2006

a regra das excepções

Porque é muito português esta coisa, às vezes com fundamento, de bater no funcionalismo público, convém fazer as ressalvas quando merecidas.
Posso testemunhar aqui que todos
os funcionários do SMAS da Maia, sem excepção, são simpáticos, atenciosos e muito prestativos. Uma verdadeira "mão na roda", fazendo muito mais do que é o estrito desempenho das suas funções.

quarta-feira, maio 03, 2006

bandas sonoras

Começando uma série, de muitas e variadas faixas que compõem as minhas bandas sonoras. Algumas mais originais que outras. Lhasa (en)canta-me, sobretudo em castelhano. Esta música é quase uma oração.

"Com toda palabra
com toda sonrisa
com toda mirada
com toda carícia

me acerco al agua
bebiendo tu beso
la luz de tu cara
la luz de tu cuerpo

es ruego el quererte
es canto de mudo
mirada de ciego
secreto desnudo

me entrego a tus brazos
com miedo y con calma
y un ruego en la boca
y un ruego en el alma
"

"Con toda palabra", Lhasa de Sela

terça-feira, maio 02, 2006

K

Isto de desempacotar a vida tem destas coisas. Encontra-se muita tralha que nem se sabe porque ali foi parar e, de repente, uma saudade, um mimo, uma preciosidade. No meio das muitas coisas estapafúrdias do meu arquivo morto, alguns números da K, que guardo com devoção. Dois, em particular.
Novembro de 92 e Março de 93. Uma aparição fugaz de um outro Portugal, que não dos pequeninos e dos medíocres. Espirituoso, vivo, inteligente, divertido, arrojado, ousado, atrevido, arrogante. Vasco Pulido Valente atacava, cáustico, em todas as direcções mas com um humor de ir às lágrimas. O Miguel Esteves Cardoso escrevia coisas hilárias e luminosas. Rui Zink fazia comentários apaixonados ao "Drácula", de Coppola. Páginas seguidas de roupa interior masculina, branca. Delírios cinematográficos. Descascadelas monumentais nos artistas instalados. Guias de engate com fórmulas de cálculo.
Estava bom de ver que esta explosão de cor e música não podia durar muito.
E o que mais impressiona é que estas pessoas nunca mais escreveram com este profundo gozo, de crianças convictas das suas brincadeiras. E como devia ser contagioso esse entusiasmo, essa criatividade, nessa bolha que era a K.
Para mim, ainda é.