quinta-feira, dezembro 28, 2006

the dream king

"Mrs. Whitaker found the Holy Grail; it was under a fur coat."

Esta a frase de abertura de Chivalry, um dos contos de Neil Gaiman reunidos em Smoke and Mirrors. É a história de uma velha senhora que tem por hábito descobrir verdadeiras relíquias em lojas de tralha e velharias. A compilação agrupa coisas muito distintas e há alguns momentos menos conseguidos. Mas, em três ou quatro textos, temos o Neil no seu melhor. Não deixem de ler Wedding Present, escondido na introdução. E The Price e Murder Misteries e Babycakes e... pela vossa rica mãezinha não leiam as traduções da Presença! Aquilo é crime!

Para quem não conhece o universo de Neil Gaiman esta é uma óptima forma de começar. Embora eu recomende sempre as duas preciosidades para miúdos(?) que ele produziu a meias com Dave McKean: Os Lobos nas Paredes e O Dia em Que Troquei o Meu Pai por Dois Peixinhos Vermelhos. Só estes dois valiam por um Plano Nacional de Leitura inteirinho, mas isso já é outra história!

terça-feira, dezembro 12, 2006

nightmare before christmas

Trabalhar numa livraria e ver caixas e caixas entrar pela porta dentro. Saber que não tenho capacidade para desempacotar tudo em tempo útil e que corro o risco de ficar soterrada por elas. Subir e descer trezentas vezes por dia as escadas e sentir os abdominais doridos, de tanto carregar pesos. Os braços, as pernas e as costas nem reclamam. Estão mais que habituados. Saber que 90% do que está dentro destes volumes é lixo e não vale o papel em que está impresso. Solicitações para 1500 feiras em escolas e os respectivos pedidos de orçamento para o Plano Nacional de Leitura. Grrrrrrr! E, no meio do cansaço acumulado, haver uma vozinha histérica que diz: e se, de tanta associação desagradável, desenvolvo uma aversão a tudo isto, aos livros?!

sábado, dezembro 02, 2006

suponhamos

"Suppose that the prohibition on the knowledge of good and evil were an expression of jealous cruelty, and the gaining of such knowledge an act of virtue? Suppose the Fall should be celebrated and not deplored? As i played with it, my story resolved itself into an account of the necessity of growing up, and a refusal to lament the loss of innocence. The true end of human life, i found myself saying, was not redemption by a nonexistent Son of Gog, but the gaining and transmission of wisdom. Innocence is not wise and wisdom cannot be innocent and if we are to do any good in this world we have to leave childhood behind."

As palavras são de Philip Pullman, retiradas de um texto introdutório que escreveu para a edição especial de Paradise Lost. Nelas explica o ponto de partida para a sua trilogia His Dark Materials. O título é um verso surripiado ao poema de Milton.
Para simplificar - porque é um relato fantástico, porque a protagonista é uma criança - His Dark Materials foi arrumado na literatura infantil. Só se for naquela velha tradição das histórias que excitam e arrepiam! Porque neste três livros há crianças inocentes forçadas a crescer; há adultos obcecados e implacáveis; há crueldade, morte e esperança; há feiticeiras, piratas e ursos bestiais; há magia, filosofia, física quântica e alquimia; há génios e mundos paralelos; há acontecimentos irreversíveis e perdas irreparáveis.