quinta-feira, julho 27, 2006

what is poetry

A girl asked you: What is poetry?
You wanted to say to her: You are too, ah yes, you are
and that in fear and wonder,
which prove the miracle,
I'm jealous of your beauty's ripeness,
and because I can't kiss you nor sleep with you,
and because I have nothing and whoever has nothing to give
must sing...

But you didn't say it, you were silent
and she didn't hear the song.

Vladimir Holan, She Asked You

segunda-feira, julho 24, 2006

short stories with a twist

luta desarmada

Há por aí quem sugira um movimento cívico, a propósito da história do Rivoli e do Sr. Rui Rio. (Não, não vou baixar o nível caindo no insulto fácil.) Sempre me fascinou aquilo que faz ou não com que os portugueses se indignem e se mobilizem mas isso fica para segundas núpcias.

Às vezes também se me dá uma urgência de salvar baleias mas sei que não passa de um devaneio romântico e inconsequente. No estado a que as coisas chegaram não vamos lá com "movimentos", mais ou menos mediáticos, que duram os quinze minutos da praxe. Nem com acções localizadas.

Precisamos de uma revolução cívica, uma que devolva esta cidade às pessoas.
É tal o espírito do lugar que vai resistindo a este lento esvaziar de gente. Mas, até quando? Não são só os quarteirões, um a seguir ao outro, que estão apodrecidos e devolutos. Esta cidade está deserta, a única coisa que cresce e se multiplica são os espaços vazios.

Vamos ocupar os edifícios abandonados. Tratar de os reconstruir, habitar cada canto, cada miradouro. Tomar posse desta cidade.
Sejamos teimosos. Sejamos territoriais. Sejamos tripeiros. Menos que isso, tudo isso, acho fraco. E mais vale estar quieto. O Sr. Rui Rio trata de tudo.

segunda-feira, julho 17, 2006

"rapidinhas culturais"

"Para poupar tempo e dinheiro aqui estão alguns tesouros da literatura universal em poucas linhas e ao alcance de qualquer besta."
Um esforço de 1992, publicado na K, que continua absolutamente actual. A vossa atenção para os resumos do Hamlet e Novo Testamento.

Para aplicar em terraços, jardins públicos e pistas de dança



a million ways | ok go

sábado, julho 15, 2006

bom selvagem

Ele guarda ciosamente a nostalgia do bom selvagem. Sonha, um dia em que deixem de precisar dele, bater com a porta de casa, assim como quem diz que vai ali comprar tabaco e não volta. Quando o fizer, caminhará para sul, até encontrar gente mais pura, águas mais quentes e uma sabedoria mais antiga que o tempo.
Eu não acredito nisso mas acredito nele.

sexta-feira, julho 07, 2006

cenário

"Uns dias mais tarde, ele volta:
- O que vou contar-te merecia figurar nas Mil e Uma Noites.
- Estás a arriscar-te, pois conheço bem esse livro. Dito isto, é preciso um quadro adequado.
- Previ tudo, reservei uma suite no Hayet, disse-lhes que é o meu noivado...
- Não percebeste. Uma bela história não necessita de luxo nem de conforto. A minha ideia é apanhar o comboio entre Casablanca e Tânger; o trajecto demora cinco horas."


Tahar Ben Jelloun, Amores feiticeiros

sedução

"Preciso de sentimentos, de palavras, de palavras que é necessário escolher, de flores a que se chama cuidados, de rosas a que se chama presença, de sonhos que habitam as árvores, de canções que fazem dançar estátuas, de estrelas que segredam ao ouvido dos amantes...Preciso de poesia, dessa magia que incendeia o peso das palavras, que desperta as emoções e lhes dá novas cores. As palavras escolhem combinações inesperadas e proporcionam-nos embriaguez e alegria, transportando-nos a lugares que os homens esqueceram.É disso, meu caro, que eu preciso."

Tahar Ben Jelloun, Amores Feiticeiros

conta-me

"Conta-me uma história de amor, uma história oriental, uma bela história de amor, ciúme, de sangue e de morte! Conta-me uma história senão mato-te!"

Tahar Ben Jelloun, Amores Feiticeiros

quinta-feira, julho 06, 2006

surfistinhas

Hoje, no metro, cruzo-me com dois miúdos. Terão 10, 11 anos e estão equipados a rigor: prancha, havaianas, calções e t-shirt das marcas aprovadas pela tribo. Nem sequer falta o tubo de parafina! A minha irmã sorri e chama-lhes "os mais pequenos surfistinhas do mundo". A mim, surpreende-me o facto de estarem sozinhos. Ponho-me a imaginar os paizinhos "radicais" que, nos dias que correm, permitiram esta aventura. Dois putos, a caminho da praia de transporte público, para se enfiarem no mar bem para lá da linha de rebentação. Hang loose!

sublinhado

"Todos nós procuramos motivos racionais para crer no absurdo."

Lawrence Durrel, Justine

terça-feira, julho 04, 2006

empirismo

Duas coisas que não devemos fazer quando usamos lentes de contacto: chorar e mergulhar de olhos abertos.

envelhecer

O rapaz vem direito a ela e entrega-lhe uma folha dobrada. Diz, "para ti", e sai. Ela lê e cora. Um poema, só um poema. E acrescenta, "um miúdo, ainda não tem a noção do ridículo". Eu pergunto, "e tu que idade tens, 150"? "Por aí, por aí..."