Há dias, dizia-me alguém, muito indignado, que tinha corrido as livrarias do Porto para comprar
Memórias de Adriano, em vão. Não me custa nada a acreditar.
São inúmeros os clássicos, as obras essenciais, que já dificilmente se encontram nas estantes das livrarias. Pode-se sempre alegar a falta de espaço, que existe; que se isso acontece é porque poucos os procuram; que há um disparate de novidades a ser despejado nas lojas; que...Tudo verdade mas não chega. O negócio livreiro em Portugal (e é só desse que falo agora porque é aquele em que me movo) é, cada vez mais, um negócio de listagens. Títulos, ISBN's, preços com e sem IVA, gestão de stocks. E nesta abstracção Yourcenar é um item de baixa rotação. Pior, nesta abstracção
Memórias de Adriano vale exactamente o mesmo que
O Capitão Cuecas.
Há um ano atrás, uma editora portuguesa de referência, com um catálogo impressionante, decidiu abdicar da sua rede de comerciais e recorrer aos serviços de uma distribuidora. Posso garantir que tive meio ano de insistência até que a dita distribuidora me apresentasse três alternativas de consignação, a maior das quais ocupava uma folha A4. Ainda perguntei se era uma piada. Não era! Claro que podia pedir à lista mas o menu pronto a servir era aquele. Como insisti em ser eu a decidir o que como esperei mais seis meses. Ao todo, um ano de espera, de reclamações, de telefonemas.
No estado em que as coisas estão, para se ter nas estantes os livros que realmente se quer é preciso pedir, implorar, chatear muito, dar um berro ou dois.
Só mais dois episódios e calo-me.
A livraria onde trabalho recebeu uma encomenda de 300 exemplares de um certo título, editado no Brasil. Só um senão: os livros tinham que estar cá no espaço de um mês. Contactámos quem, em Portugal, faz a importação de livros brasileiros. Nada feito! Se não estiver em armazém demora de 3 a 6 meses a chegar. Vêm de barco, dizem. A remos, acrescento eu.
Procuro,
para moi même, um determinado romance de um autor brasileiro. Contacto a empresa referida acima. Não têm, nem podem fazer o pedido. Na ficha do livro existe uma indicação de que a obra tem edição portuguesa. Certo, certíssimo. E informo: para ser rigorosa tem até duas mas ambas estão esgotadas desde o início dos anos 90. E então? A indicação mantém-se, o sistema não permite. ARRRRRRRH!