terça-feira, fevereiro 27, 2007

bela adormecida

Alguém me dizia hoje que há uma sentimento no ar, no Porto, de que alguma coisa está para acontecer. Que vai surgir alguém, com uma iniciativa nova, um gesto arrojado, capaz de incendiar esta cidade. Enquanto isso, chamamos nomes feios à rainha-má e sentamo-nos a velar o sono da bela adormecida. Sem fazer barulho.

estatuto

"Ser-se único, como se sabe, é estatuto que dá a volta à cabeça de qualquer um."

Lídia Jorge, em O Belo Adormecido

verdade inconveniente

A verdade inconveniente, a que me custa realmente muito a engolir, é que décadas de trabalho sério e empenhado, de centenas de investigadores e activistas, valham nada diante de um Al Gore versão pop-star iluminada.

quarta-feira, fevereiro 14, 2007

artes mágicas

Isto de se trabalhar em contacto com o público não tem só vantagens. Muito de vez em quando entra pela porta um snobe com aquele ar enjoado de quem comeu e não gostou, mortinho por dizer qualquer coisa desagradável a que não podemos responder à letra. Mas os livros sabem, os livros sentem. E retribuem! Não saiu sem que "Desenhos Para Guerra e Paz de Tolstoi", de Júlio Pomar, lhe acertasse em cheio na careca. Pesado, cartonado, cheio de arestas, edição Artemágica! Lindo menino!

o verbo

Reaver não se conjuga no Presente do Conjuntivo.

sexta-feira, fevereiro 02, 2007

da leitura 2

"Ler bem é responder ao texto, é ser responsável pelo texto."

George Steiner, em Paixão Intacta.

quinta-feira, fevereiro 01, 2007

estranheza

"Que me acontecem sempre coisas muito estranhas era o que há dois anos num autocarro romano me estava a dizer Mercedes Monmany quando de repente um velho japonês se pôs a ler, em alemão e em voz alta, um guia dos restaurantes de Marraqueche."

Enrique Vila-Matas, em Da Cidade Nervosa.

testando a realidade

Entro na farmácia do costume e entretenho-me naquela conversa de circunstância que se mantém em sítios onde nos conhecem pelo nome próprio. A certa altura a música, até aí ambiente e indistinta, concretiza-se num velho tema da Tracy Chapman. Sorrio, pode sempre piorar! E eis senão quando, uma a uma, as funcionárias de serviço começam a cantar. Sabem a letra, repetem-na e agora também dançam. Nada de movimentos espontâneos: há aqui coisa estudada. Interrogo-me se aquilo está realmente a acontecer. Talvez seja apenas e só um dos meus delírios. Olho em volta e percebo ser a única cliente. Não, não estou a ver e ouvir coisas. Se isto fosse produto da minha cabeça, incrementava na coreografia. E nada de Tracy para a banda sonora!