domingo, junho 24, 2007

Paulo Leminski


um bom poema leva anos
cinco jogando bola,
mais cinco estudando sânscrito,
seis carregando pedra,
nove namorando a vizinha,
sete levando porrada,
quatro andando sozinho,
três mudando de cidade,
dez trocando de assunto,
uma eternidade, eu e você,
caminhando junto


•§•

um dia
a gente ia ser homero
a obra nada menos que uma ilíada
depois
a barra pesando
dava pra ser aí um rimbaud
um ungaretti um fernando pessoa qualquer
um lorca um eluárd um ginsberg
por fim
acabamos o pequeno poeta de província
que sempre fomos
por trás de tantas máscaras
que o tempo tratou como a flores

•§•

desta vez não vai ter neve como em petrogrado aquele dia
o céu vai estar limpo e o sol brilhando
você dormindo e eu sonhando
nem casacos nem cossacos como em petrogrado aquele dia
apenas você nua e eu como nasci
eu dormindo e você sonhando
não vai mais ter multidões gritando como em petrogrado
aquele dia
silêncio nós dois murmúrios azuis
eu e você dormindo e sonhando
nunca mais vai ter um dia como em petrogrado aquele dia
nada como um dia indo atrás do outro vindo
você e eu sonhando e dormindo

•§•


já me matei faz muito tempo
me matei quando o tempo era escasso
e o que havia entre o tempo e o espaço
era o de sempre
nunca mesmo o sempre passo
morrer faz bem à vista e ao baço
melhora o ritmo do pulso
e clareia a alma morrer de vez em quando
é a única coisa que me acalma

Paulo Leminski

sexta-feira, junho 22, 2007

das dedicatórias

O que tu não sabes, não tinhas como saber, é que todos os anos, neste dia, alguém que já morreu me oferecia um livro, com qualquer coisa rabiscada a reclamar do meu mau feitio, e margaridas, brancas ou amarelas. Por isso, quando hoje chegaste com as flores, sem enfeites nem laçarotes, eu demorei a reagir. Mas o sorriso ainda dura.

domingo, junho 17, 2007

you weren't here for the naming of things

he's keeping busy
yeah he's bleeding stones
with his machinations and his palindromes
it was anything but hear the voice
that says that we're all basically alone

poor Professor Pynchon had only good intentions
when he put his Bunsen burners all away
and turning to a playground in a Petri dish
where single cells would swing their fists
at anything that looks like easy prey
in this nature show that rages every day
it was then he heard his intuition say

we were all basically alone
and despite what all his studies had shown
that what's mistaken for closeness
is just a case of mitosis
and why do some show no mercy
while others are painfully shy
tell me doctor can you quantify
he just wants to know the reason why

why do they congregate in groups of four
scatter like a billion spores
and let the wind just carry them away
hows can kids be so mean
our famous doctor tried to glean
as he went home at the end of the day
in this nature show that rages every day
it was then he heard his intuition say

we were all basically alone
despite what all his studies had shown
that what's mistaken for closeness
is just a case of mitosis
sure fatal doses of malcontent through osmosis
and why do some show no mercy
while others are painfully shy
tell me doctor, can you quantify?
the reason why


Imitosis, Andrew Bird